sábado, 10 de abril de 2010
O Suicida Incompleto
Já não era noite, passava-se disto,
Embora a luz não houvesse chegado.
Estava prestes a deixar meu fardo,
Depois daquilo, não mais seria visto.
Ergui minha taça à lua amada
Brindei com sangue, à minha partida
Em breve, junto à cripta empoeirada,
Somente corvos chorariam minha ida!
Mas eu, suicida desgraçado
Quis matar-me, mas não pude!
Quis ver a Morte , mas não vi!
Encontrei naquela noite,
O conforto das almas inquietas
A cura de todas as feridas...
Lembrei-me de ti.
O Rei dos Corvos
Ao fundo de uma sala, à luz do dia,
Jaz entediado o rei dos corvos.
Causam-lhe sofrimento os raios solares
Como se pertencesse a outros ares
De criptas empoeiradas e homens mortos,
E não em tal maçante monotonia.
Sente-se só, e com razão assim sentia
Estando cheia a sala de homens tolos,
Inúteis, imprestáveis e outros trastes,
Abominações de todas as classes,
Que entretiam o Rei dos Corvos
Neles observando a fria vida.
Percebeu que ele talvez seria
O mais humano dentre os tolos,
O mais vivo dentre os seres.
E assim sendo, viveria
Sendo o mais humano dos corvos,
E o mais vivo dos cadáveres.
Romortismos
Morte...Morte de que?
Do Espírito? Mera ilusão humana...
Morte! Ilusão, Irrealidade
Sonho... Sonhar com que?
Morte!!! Eis o meu Sonho!!!
- Corvos Desgraçados!!!Por Que me assombram?
Morte... Será o Motivo???
Sangue...Derramado em vão?
Morte... - A voz profere...
Morrer?- A voz indaga...
Morreu....
E assim se fez um poeta romântico
Túmulo de Poemas
Minha boca é nada mais que um túmulo,
Não tão bom para confidências.
Minha mente, é um cadáver pálido,
Fruto de minhas demências...
Minha boca abriga cadáveres
E não simples poemas,
Pois minha mente, vive num túmulo
E jaz entre metáforas e morfemas
Quisera eu que fosse de outra maneira...
Falar de rosas, em vez de cadáveres...
Ser feliz minha vida inteira...
Mas minha boca, canta a marcha fúnebre,
E rosas podres, jazem com os cadáveres
Em um demente túmulo de poemas.
Círculo
Não importa o quão longe eu veja,
Me sinto cego!!! Nada é certeiro...
Tudo me é torpe...Por melhor que seja.
- E até no Céu , os Anjos caem primeiro...
Pobre humanidade decadente...
Não há salvação, por mais que orem
beatos nas igrejas hipocritamente.
- E na Terra, o Anjo transforma-se em Homem
Perdida a salvação, perdida a sorte,
As frontes cansadas clamam o sono.
Perdeu-se a esperança! Já clamam à Morte
- E no Pecado, faz-se do Homem um Demônio.
No inferno, a humanidade demoníaca
É consumida pelo fogo, enquanto
O Grande Anjo Negro se vale da ironia
- E Das Cinzas de um Dêmonio faz um Anjo
Inspirações Noctívagas
Em meus sonhos sombrios, visões alucinadas,
Alucinações aladas, me trazem calafrios.
Dementes frutos vazios, de mentes tão cansadas,
Litanias vagas, que trazem-me arrepios.
Levam-me sempre a casas mortuárias,
Aonde entorpece-me ,o cheiro da resina,
E tais inspirações, mórbidas e precárias,
Criam na mente , sutis carnificinas.
O sono , irmão da morte, me confina,
A tais inspirações, morbidamente.
E como se não despertasse dessa sina,
Junto me aos mortos, espectralmente.
Mas no horizonte, algo me ilumina os olhos:
A luz atinge-me com seus raios céleres,
Desperto! E ao terminar sombrios sonhos,
Enterro novamente meus cadáveres.
Crepúsculo de Sangue
Erga a fronte, seque as lágrimas.
O Crepúsculo é sempre mais rubro que a Alvorada.
O sangue que de mim caía, agora sublima,
Como sublima minha vida em árdua estrada.
Limpe a mente, deixe o fardo,
Não tentes entender a vida em horas amargas.
Pois se soubesses de que vem meu sorriso,
Chorarias em eternas madrugadas.
Seja então como a rocha no mar, escarpada,
Deixe arrebentar as ondas, sofra sem mágoas.
Pois na intensa dor, no sangue rubro,
Grande paixão também é encontrada.
Liberte-se da Fúria, perca-se da Calma.
O Crepúsculo é sempre mais rubro que a Alvorada.
Tingido de sangue, um dia serás negro,
Sombrio por do sol de minha alma.
Noite Gélida
Noite Gélida,
De trevas cadavéricas
Estende-te até mim!
Cubra-me com teu manto negro
De diamantíferas estrelas,
Faze-me parte de ti!
Noite Gélida
Cubra com teu manto
A minha tez sombria,
Minha vil melancolia,
Para que se perca minha existência
Em tua paz mortificada!
Noite Gélida,
Na paz de tua penumbra
Rogo-te com dor profunda
Que invadas minha alma,
E quando então, inevitavelmente
A essência abandonar a carne
Fazei-me parte de ti!
Morte gélida...
Reflexo Renegado
Parte renegada de meu ser
Tú que olhas mas não vês.
Mesmo sendo teu oposto,
Não nego que sou teu.
Aprisionado neste espelho,
Miro teu rosto a contorcer.
Se tens medo do que enxergas
Tu tens medo de viver!
No dia que deixares de temer
a contorcida imagem que te imita
Deixarás de somente enxergar,
E teus olhos passarão a ver
Se com esta visão tu perceberes
que temias a ti mesmo, perceberás
Que és o verdadeiro aprisionado
Do outro lado deste espelho
Memento Mori
Lembra-te pois, que da morte não se foge:
Aceita em vida a Indesejável!
O ser Macabro , o ser mais forte.
Paciente, aguarde a Inevitável.
Cá por dentro sinto cheiro de resina.
Ao Longe, um céu pós tempestade.
Cinza e negra, minha alma se resigna
Perante sua inutilidade.
A inútil matéria que se indigna
Em vão com sua sociedade
Em vis grilhões se confina,
Erguendo sua própria majestade.
Por medo dela mesma, se aprisiona.
Se esconde, contorcida, de outros seres.
Lutando contra si, renega a sina
Em meio ao fogo-fátuo dos cadáveres.
A noite em tal alma é bem mais longa;
Duas vezes doze horas dura,
E sete vezes isto, na semana encontra
Dor no peito e a propria alma escura.
Quão triste é lembrar que da morte não há fuga!
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